Por Marcelo Silveira Dalle Teze
Ao longo da história, nenhuma ordem mundial foi permanente.
Impérios surgem, prosperam e entram em declínio de forma cíclica.
Essa é a base do livro Princípios para uma Ordem Mundial em Transformação, de Ray Dalio.
Dalio demonstra que o poder global se organiza em grandes ciclos de longo prazo.
Esses ciclos envolvem economia, política, força militar e, principalmente, moeda.
Quando esses pilares se alinham, uma nação assume a liderança do sistema mundial.
No início desses ciclos, os pobres entram como base produtiva.
São a força de trabalho que sustenta o crescimento e a expansão.
Trabalham muito, recebem pouco e acumulam quase nada.
À medida que a riqueza cresce, ela se concentra.
A desigualdade aumenta de forma natural e previsível.
Nesse momento, os pobres passam a ocupar o centro do discurso político.
Eles deixam de ser apenas trabalhadores e se tornam argumento.
Programas sociais se expandem, promessas se multiplicam e a polarização cresce.
A política passa a explorar emoções em vez de resolver causas estruturais.
Quando o ciclo avança para o declínio, os efeitos se intensificam.
A dívida pública cresce, a moeda perde valor e a inflação aparece.
Os primeiros a sentir o impacto são os mais pobres.
O custo do desajuste econômico raramente atinge a elite no início.
Ele desce a pirâmide social até encontrar quem tem menos proteção.
Os pobres funcionam, na prática, como amortecedores do colapso.
Dalio deixa claro que os sistemas não entram em crise para proteger os vulneráveis.
Eles entram em crise quando deixam de funcionar para quem detém poder.
Os pobres não causam o colapso, mas quase sempre pagam a conta.
Ainda assim, a história apresenta exceções relevantes.
Algumas nações conseguiram reduzir tensões internas antes do conflito.
Essas exceções não foram baseadas em caridade, mas em estratégia.
Países que investiram fortemente em educação básica de qualidade
criaram mobilidade social real e ampliaram oportunidades.
Ao reduzir desigualdade, fortaleceram a coesão social.
Isso não impediu os ciclos, mas os tornou menos violentos.
O declínio, quando veio, foi mais lento e menos traumático.
A estabilidade social prolongou a relevância dessas nações.
Dalio reforça que ignorar desigualdade é um erro recorrente das potências no auge.
A crença de que “desta vez é diferente” antecede quase todo colapso.
A história pune a negação, não a mudança.
Vivemos hoje uma transição clara da ordem mundial. Em que a robótica passará, gradativamente, a força humana do trabalho básico.
Compreender quem paga o custo dessa mudança é essencial.
Os pobres sentem primeiro aquilo que o sistema insiste em negar e há uma tendência de grandes gurus em quererem uma redução populacional intensa num planeta de recursos finitos, assim que esta mão de obra não for mais tão necessária.
Entender os ciclos não é pessimismo.
É lucidez histórica.
E lucidez sempre foi o primeiro passo para atravessar tempos difíceis.



